#31 Sozinha, mas bem acompanhada!




Essa é a terceira vez que venho ao Brasil desde que me mudei e acabo de voltar de uma caminhada sozinha na praia. Sempre que estou aqui, sinto uma certa pressão para estar constantemente cercada de gente - como se fosse preciso aproveitar cada segundo ao lado de quem não posso ver com frequência.
Ainda que seja uma delícia ter a companhia de pessoas queridas, uma caminhada com os próprios pensamentos, seguida de uma observação silenciosa do mar, tem o seu valor. Foi ali, entre o barulho das ondas e o vento no rosto, que finalmente percebi - e aceitei - que eu gosto de ficar sozinha. Mais do que isso: me beneficio muito dos momentos em que estou só.
Essa percepção parece ir contra o senso comum. Você provavelmente já viu manchetes alertando sobre os efeitos da solidão, algo como “Isolamento social reduz qualidade de vida” ou “Solidão pode ser um risco maior à saúde do que fumar ou ser obeso”. Com isso, a mensagem implícita é a de que devemos sempre buscar a companhia dos outros - por segurança, por saúde, por completude.
A verdade é que o tempo sozinho ainda carrega um forte estigma. “Uma pessoa jantando sozinha no restaurante é tida por infeliz, mesmo que os casais ao lado estejam focados em seus celulares o tempo todo. Passaria pela cabeça de alguém uma noite de Natal ou Ano Novo em completa solidão? Pouco provável na nossa concepção atual”, escreve Leandro Karnal em O dilema do porco-espinho.
Esse julgamento social tem efeitos reais. Uma pesquisa da Associação Americana de Psicologia mostrou que muitas pessoas evitam fazer atividades prazerosas sozinhas - como ir ao cinema - com receio de parecerem solitárias. O estudo destaca que tendemos a superestimar o quanto o prazer dessas experiências depende da presença de alguém.
Com isso, acabamos reservando nossos momentos divertidos apenas para a socialização - como se o objetivo fosse entreter os outros, e não a nós mesmos. Sozinhos, nem sempre nos sentimos “autorizados” a planejar algo especial. Mas isso pode estar mudando, ainda que lentamente. As refeições individuais aumentaram durante a pandemia, e o número de viagens solo também vem crescendo.
Por isso, talvez seja hora de repensar nossa relação com a solidão. Pesquisadores apontam que ficar sozinho pode ser muito positivo quando encarado como oportunidade de conexão interna. “Familiarizar-se com os benefícios do tempo sozinho pode ajudá-lo a ter menos medo dele”, afirma Michael Harris, autor do livro Solitude: In Pursuit of a Singular Life in a Crowded World.
A chave está em entender que solidão é uma experiência individual. Ela pode ser dolorosa ou reconfortante - e cabe a cada um perceber onde esse sentimento se encaixa. Quando bem vivida, ela nos ensina muito.
Um estudo da Universidade de Massachusetts revelou que momentos a sós podem levar a uma nova compreensão de si mesmo e das próprias prioridades. Segundo Harris, é nesse silêncio que conseguimos descobrir o que realmente gostamos - longe da influência constante de algoritmos, modismos ou opiniões alheias. “Até a Netflix faz sugestões para você - não há muito espaço hoje em dia para realmente inspecionar nossas preferências e tomar decisões com base nelas”, diz ele.
Além disso, o tempo sozinho pode nos acalmar. A psicóloga Thuy-vy Nguyen, da Universidade de Durham, explica que a solidão tem o poder de “desativar” emoções exacerbadas, como ansiedade, raiva e agitação. “É como apertar um botão de reinício. Para manter a empolgação e a vitalidade, também precisamos de momentos de pausa”, afirma.
Leandro Karnal também reforça esse ponto. Para ele, a solidão só se torna positiva quando nos conecta a nós mesmos: “Isolado das pessoas e em contato comigo, refletindo ou lendo, eu me sinto acompanhado sem estar com ninguém. Assim, a solidão não pesa nem se transforma em angústia. Ela me leva a um conhecimento maior de mim; ou ao prazer de uma paisagem em silêncio. Estou sem mais ninguém e me sinto bem, preenchido, pleno, até”.
Se você tem vontade de viver essa experiência, comece com algo simples: marque um encontro consigo mesmo. Vá observar o movimento da cidade em um parque, passeie por um museu, caminhe por um bairro desconhecido, prepare uma refeição especial só para você, dance ao som da sua música preferida... Seja qual for a atividade, faça com intencionalidade e aproveite o seu momento!
Adoroo esses momentos comigo mesma!!
Me lembro do bloqueio que tive em ir a praia e ao cinema sozinha. Depois que conseguir ir, me senti mais livre!